segunda-feira, 4 de novembro de 2013

CONEGO LUIZ GIAROLA CARLOS, 25 ANOS DE SUA PASSAGEM


Participei hoje, dia 04 de novembro de 2013, da Missa pelos 25 anos da passagem do saudoso Cônego Luiz Giarola Carlos.

Homem de Fé, rigoroso com os costumes, conservador nos atos religiosos, mas intensamente humano e caridoso.

Aliado à sua profunda vocação sacerdotal, tinha um grande espírito empreendedor, tendo realizado grandes investimentos, como a Matriz de Sant'Ana, construída em estilo neo-gótico, e a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, entre outros tantos. 

Junto ao meu pai, Geraldo Napoleão de Souza, criaram o Ginásio São José por meio da CNEG (Campanha Nacional de Educandários Gratuitos), sendo meu pai o Presidente e o então Padre Luíz o Diretor.

A primeira turma iniciou as aulas em 1959 concluindo os estudos em 1962, e completou, no ano passado, 50 anos da formatura. Neste ano de 2013 completa-se 50 anos da formatura da segunda turma de estudantes, da qual fiz parte. As gerações de prefeitos, vereadores, empresários e outros profissionais, passaram pelo Ginásio São José.

Para cuidar da saúde dos barrosenses, o Cônego criou o Instituto Nossa Senhora do Carmo (INSC), inaugurando em 4 de outubro de 1959, o Posto de Puericultura e Maternidade, que situava-se na Praça do Rosário, 28, onde funcionava o Colégio São José, hoje Colégio Invíctus.

Em 1º de maio de 1975, inaugurava o Lar Nossa Senhora de Fátima, para encampar a outra finalidade social do INSC, a assistência social aos idosos. Eles foram acolhidos em uma nova unidade do Instituto, até hoje situada na Av. Rio Grande do Sul, 460, no Bairro Jardim Bandeirantes.

À convite do Padre Luíz, Presidente do Instituto Nossa Senhora do Carmo, fui contratado para recuperar as finanças do Hospital, onde iniciei minha trajetória de trabalho pela saúde em maio de 1975.

Foi sempre muito cuidadoso com os documentos, exigindo que as reuniões fossem registradas em atas bem escritas e que todos os atos fossem também documentados, exigindo sempre as suas leituras nas reuniões seguintes, para a discussão e aprovação dos presentes, em todas as organizações orientadas pela Paróquia de Sant'Ana.

Este fato citado foi muito marcante. Lembro-me que quando apresentava o relatório para o Conselho Deliberativo do Instituto Nossa Senhora do Carmo, ele fazia questão que todas as páginas fossem lidas para conhecimento dos conselheiros, alguma coisa próxima de 50 a 70 páginas... e, acreditem, sempre na missa do domingo seguinte à reunião do Conselho Deliberativo era feita a Assembléia Geral, convocados todos os paroquianos de Sant'Ana, e a Assembléia só era instalada após a missa da noite, quando pouquíssimas pessoas, além dos próprios conselheiros que já haviam participado da Reunião do Conselho Deliberativo, se faziam presentes. 

Era mesmo de impressionar a responsabilidade e a seriedade com que Cônego Luiz orientava e exigia que tudo fosse feito, também fazendo-se ali a leitura de todas as páginas do extenso relatório.

Falo de “Padre” Luiz porque só mais tarde é que foi elevado à categoria de Cônego.

Era um sacerdote caprichoso, rigoroso e muito humano. Orientava não só para a vida religiosa, como também guiava as pessoas para uma conduta educada, incluindo a orientação para que tivessem cuidado com os gastos, poupando, para se ter sempre uma reserva financeira para uma vida tranquila.

Nesta linha, abria uma caderneta de poupança para os seus acólitos, depositando uma quantia todo mês em suas contas e, no final de cada ano, entregava a eles aquelas cadernetas com o montante depositado, para que aprendessem a cuidar do dinheiro e pudessem também fazer uma poupança.

Era realmente muito rigoroso com os costumes. Exigia que as pessoas, sobretudo as mulheres, fossem à Igreja com vestes que não colocassem os seus corpos exibidos, como decotes, saias curtas ou outras formas sensuais. Nos casamentos, chegava a barrar testemunhas que não estivessem trajadas com estes cuidados.

Apesar de todo este rigor, tinha um coração muito sensível e acolhia as pessoas que estavam à margem da sociedade, dando-lhe as suas mãos para que se erguessem.

Posso citar o exemplo de mães solteiras, que na década de 70 do século 20, ficavam marginalizadas pela sociedade, mas Cônego Luiz dava-lhes emprego, repetindo o gesto de Jesus, quando falou às pessoas que queriam apedrejar a mulher pecadora: "Quem não tiver pecado atire a primeira pedra" e ninguém atirou pedras naquela mulher e Jesus disse a ela: "Vai e não peques mais".

Outra passagem, quando a esposa deixou o marido e, mesmo sendo ele protestante, Cônego Luiz pediu-me para que o admitisse no Hospital, com um gesto de acolhimento àquele cidadão que se encontrava marginalizado. Creio que estes gestos, entre tantos similares, repetia naturalmente os gestos de Jesus, o Grande Sacerdote.

Na missa de hoje encontravam-se sete padres barrosenses, faltando apenas o Antão. Creio que essas vocações têm a ver com a história de vida do Cônego Luiz, que ouviu e cumpriu a ordem de Melquisedeque: "Tu és sacerdote eternamente", contagiando garotos e jovens que seguiram a nobre e difícil carreira do sacerdócio.

Na significativa homenagem prestada ao Cônego Luiz, idealizada pelo então Prefeito Meneghin, no intuito de colocá-lo num ponto bem alto, talvez com a intenção de mostrar o seu valor, colocou-se a sua estátua num ponto elevado na Praça Gustavo Meireles. Por uma questão estratégica, sua imagem dividiu espaço com o obelisco, que é o símbolo da emancipação política de Barroso. Isso acabou por distanciá-lo das pessoas e as gerações que se sucederam foram perdendo a memória em relação ao Cônego Luiz. 

Creio que se sua estátua tivesse sido construída em frente à Matriz de Sant’Ana, ao alcance das pessoas, que leriam na placa o resumo de sua história, os cidadãos barrosenses cresceriam tendo acesso ao grande trabalho realizado na Paróquia de Sant'Ana, pelos fiéis e por Barroso, e a história do importante Padre Luíz permaneceria viva na memória das gerações que se sucedem.

Seria o sacerdote ao alcance das pessoas, junto das pessoas, e não garbosamente colocado no pedestal, distante do povo que abraçou e acolheu.

Estou certo que Deus o acolheu em sua glória e deve estar radiante com as homenagens que lhe foram prestadas hoje, na Matriz de Nossa Senhora de Fátima, no Bandeirantes, com a presença de sua irmã Professora Beatriz, acompanhada de Carlos, seu filho e suas netas.

Foi uma noite histórica e memorável, homenageando e relembrando as realizações do grande Sacerdote Cônego Luiz Giarola Carlos.

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