Hoje, 31 de março de 2014, completam-se 50 anos do golpe de 1964.
Um fato interessante é que associa-se o golpe aos militares mas, salvo melhor juízo, creio que foi um golpe político militar, onde governadores de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, lideraram o movimento com o apoio das forças armadas para derrubar o Presidente João Goulart (PTB), que substituíra o Presidente Jânio Quadros (UDN) que renunciou em 1961.
Voltando um pouco a 1960, registro um relato de minha irmã Ana Maria, que estudava no Colégio Nossa Senhora das Dores de São João del-Rei e residia na casa de meu tio Patafú e de tia Margarida:
Jânio Quadros(UDN), durante a campanha para Presidente da República que disputava com Lott (PSD), foi recebido pela população no aeroporto de São João del-Rei por uma grande multidão. Como tia Margarida tinha simpatia por Jânio Quadros, pediu ao tio Patafú para ir ao aeroporto receber o candidato da UDN, quando Ana Maria acompanhou o casal ela ficou impressionada com a recepção ao Jânio Quadros. Em todas as casas das ruas e avenidas por onde passou a comitiva, as pessoas ostentavam em suas janelas a "VASSOURA" - símbolo da campanha de Jânio Quadros para sinalizar que faria uma varredoura em todas coisas erradas no Governo Federal.
Infelizmente, Jânio Quadros chegou à Presidência e pouco tempo depois renunciou, uma vez que, segundo alguns historiadores, imaginava voltar a Presidência com o apoio do povo, para quem sabe talvez, fechar o Congresso Nacional e assumir a ditadura.
Felizmente, o povo não se manifestou como Jânio imaginava e, a contra gosto das forças armadas, assumiu o Vice-Presidente João Goulart (PTB), que sempre foi influenciado pelo seu cunhado Leonel Brizola, Governador do Rio Grande do Sul.
A ocupação do cargo por João Goulart somente foi possível após um acordo com a implantação do parlamentarismo - oportunidade em que Tancredo Neves foi o Primeiro Ministro -, situação que durou pouco tempo, pois João Goulart promoveu um plebiscito para que o povo escolhesse entre o parlamentarismo e o presidencialismo. No plebiscito o presidencialismo foi vencedor.
De 1961 a 1964, vivia-se um cenário de preocupação com o comunismo, pois era o tempo da guerra fria entre os Estados Unidos e a Rússia, e o Presidente João Goulart, influenciado pelo seu cunhado Leonel Brizola, exteriorizava idéias fortemente esquerdistas que preocupavam lideranças direitistas.
No dia 30 de março de 1964, contrariando os seus conselheiros mais próximos, João Goulart compareceu ao ato pelos 40 anos da Associação de Subtenentes e Sargentos da PM, no Automóvel Clube do Rio de Janeiro, onde fez seu último discurso como Presidente da República, pregando a observância da lei e da ordem, mas defendendo a reforma de base e um país com mais justiça social.
Essa ação de João Goulart assustou definitivamente os militares, pois foi um desrespeito à hierarquia militar, o que levou o General Mourão a antecipar o golpe.
Um historiador conta que, durante a tarde, Tancredo Neves estava em seu apartamento em Copacapabana, quando João Goulart ligou para ele e leu o discurso que faria na Associação de Subtenentes e Sargentos, ocasião em que fez para ele o seguinte comentário:"Belo discurso, mas talvez custe a Presidência da República".
Também o Senador Juscelino Kubstichek esteve com João Goulart no Palácio das Laranjeiras e disse a Jango: "Jango, o movimento está em marcha, é coisa séria e você só tem uma chance de preservar o poder e continuar na Presidência. Faça um manifesto à nação imediatamente tornando clara a repulsa ao comunismo, anuncie o ministério de perfil mais conservador, garanta anistia aos militares sublevados e, por fim, assegure a punição aos marinheiros que desafiaram a autoridade do Ministro da Marinha, que deixou o cargo."
Não acatando as orientações de Tancredo Neves e de Juscelino Kubstichek, a situação tornou-se insustentável.
O Governador Magalhães Pinto (UDN), por Minas Gerais, Carlos Lacerda (UDN), Governador do Rio de Janeiro e Ademar de Barros, Governador de São Paulo, já estavam tramando com as forças armadas a derrubada de João Goulart e às 4 horas do dia 31 de março de 1964, em Juiz de Fora, o general Mourão Filho começou a movimentar as tropas em direção ao Rio, em conjunto com as do general Carlos Guedes, comandante em Belo Horizonte.
O Presidente João Goulart, que não queria que houvesse derramamento de sangue, foi para o Rio Grande do Sul e de lá asilou-se no Uruguai.
A Presidência foi, então, assumida pelo presidente do Congresso, Ranieri Mazili, seguido pela eleição indireta de Castelo Branco e assim sucessivamente, por vários presidentes militares, por 21 anos, numa ditadura que policiou a imprensa e as liberdades individuais, perseguindo os opositores aos regimes e decepcionando os políticos como Magalhães Pinto, Ademar de Barros e sobretudo Carlos Lacerda, que imaginava que um ano depois haveria eleição direta e ele sairia candidato. Deu tudo errado e Carlos Lacerda, como outras lideranças importantes, como Juscelino e Fernando Henrique Cardoso, foram caçados e exilados para outros países, onde ficaram por longos anos até a anistia que permitiu os seus retornos ao Brasil.
Foram períodos muito fortes, que ceifaram muitas vidas e mutilaram muitos opositores. Esperamos que esses tempos não voltem mais e que possamos continuar no caminho da democracia, da liberdade de imprensa, sem corrupção mas com respeito às leis, com um Congresso e um Judiciário fortes, para ter força para inibir ações do Executivo que contrariem a Constituição e submetam as minorias e opositores, fatores que comprometem um Brasil verdadeiramente democrático.
Que o Brasil se transforme numa verdadeira república, descentralizada, com Estados e Municípios tendo maior importância e participação na arrecadação dos impostos para, com a descentralização dos recursos, o povo possa ser melhor atendido na saúde, na educação e na segurança.
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